Estou gostando muito, pois o desafio é grande. O mercado de telecomunicações / networking é extremamente competitivo e cresce a passos largos na Ásia. A cada semana tem novos contratos sendo fechados envolvendo milhões ou bilhões de dólares, as empresas disputam nariz a nariz posições no mercado e a guerra por talentos e tecnologia é intensa.
Isso não fosse o suficiente, a Alcatel-Lucent é o resultado de uma fusão de gigantes (a francesa Alcatel e a americana Lucent), que se tornou a maior empresa de tecnologia de comunicação do mundo. Com a fusão de 2 gigantes, uma nova identidade corporativa foi criada, não é mais Alcatel, não é mais Lucent: é Alcatel-Lucent. Se fosse só o nome, tudo bem, mas estamos falando de toda uma nova cultura organizacional e a percepção sobre ela.
E meu trabalho está diretamente ligado a difusão dessa nova identidade, internamente a todos os empregados e externamente à mídia, aos clientes, aos futuros empregados, etc. Estou bem satisfeito porque tenho assumido responsabilidades e projetos que não imaginava ter em mãos nessa fase da minha carreira. Trabalho junto à diretoria da empresa e sou o único responsável por comunicação corporativa em Bangalore, onde se concentram a maioria dos funcionários da Índia.
Bom, ao invés de falar o que estou fazendo aqui, acho mais interessante contar a vocês algumas curiosidades do ambiente de trabalho:
Reuniões
Assim como no Brasil, se fazem muitas reuniões. Seja pra acompanhar projetos, brainstorm de idéias, apresentarem novas propostas, etc. Na reunião sempre tem alguém presidindo, com a pauta e alguém tomando notas para a minuta, bem organizadinho. Meu grande problema no início era entender o sotaque indiano, às vezes ficava muito perdido nas reuniões e jurava que não estavam falando inglês. Hoje já é tranqüilo, acompanho tudo e opino bastante – aí é a vez deles terem que se esforçar para entenderem meu sotaque.. hehe
O que eu detesto são as reuniões por telefone. Como estamos em muitas localidades na Índia e eu estou envolvido em projetos pro país inteiro, frequentemente tenho que participar de reuniões por telefone. Aí é uma zona! O sotaque piora pelo telefone, um fala em cima do outro, as vezes a pauta se perde, eu detesto!
Graças à tecnologia disponível, já participei de alguns treinamentos virtuais muito interessantes pela empresa. No último, sobre a ferramenta de análise da intranet e da internet da empresa, participaram responsáveis por comunicação do mundo todo: alemanha, rússia, espanha, franca, EUA, áfrica do sul, china, japão... e eu na Índia. Com 1 clique, estávamos todos acompanhando a tela da mulher nos EUA que estava dando o treinamento, quase sem nenhum delay.
Devido ao fuso horário, quando chegamos às 18:00, começam as ligações internacionais e as conferencias. Aí é uma bagunça de telefones ao viva-vós, cada um com um sotaque diferente e os engenheiros se amontoando nos cubículos para participar da reunião.
Ambiente
O ambiente de trabalho também lembra muito o das grandes empresas em terras brazucas. O clima é amigável, hora ou outra se escutam algumas risadas, a parada do café é rotina, todo mundo se cumprimenta com um sorriso... Cubículos separam os funcionários fisicamente, mas a comunidade é dividida por algumas “tribos”. Têm os engenheiros juniors, novinhos, sempre juntos discutindo problemas nos seus softwares, as festas do ultimo fim de semana, o campeonato de cricket. Têm as meninas do RH, sempre juntas a dar risadinhas discretas. Os engenheiros seniors, que parecem mais ocupados sempre e tem um ar de mentores de seus times de juvenis.
Aqui em Bangalore, onde se concentram a força de P&D da empresa, o clima é bem mais informal que em Gurgaon e Mumbai, onde estão a maior parte da administração. Eu estou sempre de roupa social, mas as é comum ver a galera de jeans, chinelão de dedo, e umas camisas coloridas (daquelas da década de 70).
Ritmo de trabalho
Uma coisa que havia lido durante minha preparação para a Índia era que as coisas eram mais lentas. Realmente são e isso irrita as vezes, mas aí temos um diferencial: todos acham que eu entrego tudo muito rápido no trabalho.
O que me chama mais atenção é que tudo é bem arrítmico. A gestão de tempo não é muito o forte aqui. Os processos vão se acumulando num gargalo (geralmente alguém que tem que dar o “sinal verde” para seguir adiante) e depois, quando não há mais tempo, temos que correr com tudo pra entregar no prazo. Vou dar um exemplo fictício pra esclarecer:
Digamos que a empresa quer desenvolver uma estratégia para aumentar sua visibilidade ante aos universitários e atrair talentos – prazo: 1 mês para o fim das aulas e início das férias e formaturas. Aí eu sou chamado para montar o plano de comunicação. Eu faço um brainstorm, monto um documento com minha sugestão de plano e mando pra diretoria aprovar – faço isso em 1 semana. Meu documento provavelmente vai ficar parado nas mãos de alguém, que só vai me responder com feedbacks faltando poucos dias pro início das aulas. Aí eu tenho uma semana de cão pra colocar tudo funcionando dentro do prazo. Por isso as vezes tenho semanas tranqüilas e chatas, e depois vem uma tempestade de coisas pra resolver.
Comida
Como todos os dias no “bandejão” da empresa, junto com todos os outros funcionários: gerentes, diretores, engenheiros, todo mundo. Eu como a comida do buffet, custa 35 rupias (pouco menos de 1 dolar). A comida é vegetariana, mas eu gosto. Todos os dias tem: 1 sobremesa, 1 ou 2 tipos de pão (sem fermento) arroz branco, arroz cheio de tempero, 2 ou 3 “ensopados” ( a comida indiana geralmente tem muito molho), salada de pipino, sopa e um salgadinho de arroz frito (tipo chips).
Eu como quase de tudo, mas às vezes tem surpresas ruins... Um exemplo: eu adoro batata. Quando tem ensopado de batata eu loto o prato. Outro dia coloquei um monte! Molho vermelho com pedaços de batata cozida. Na primeira garfada, descobri: era abacaxi!! Hurgh!
Muita gente traz comida de casa, vêm com as vasilhinhas tapperware e esquentam no microondas. Eu vou levar comida de vez em quando, já que sempre faço a janta em casa.
Tenho utilizado meu tempo no escritório como pesquisa também. Pra quem ainda não sabe, estou escrevendo um livro sobre como fazer negócios na Índia, espero publicar o livro assim que voltar para o Brasil, início de 2009. Lá vocês vão encontrar outras curiosidades do mundo dos negócios indiano.
(english version)
Working in India
I’m not in India as a tourist. So, let me write a little bit about my job here. As I wrote before, I’m working at Alcatel-Lucent as Communication Executive.
I’m really enjoying because the challenge is quite big. The telecommunications/networking market is extremely competitive and is growing at giant steps in Asia. Every week there is a new deal being made with millions or billions of dollars on the table. Companies compete “nose by nose” for positions in the market and the war for talents and technology is intense.
As if that was not enough challenge, Alcatel-Lucent is the result of a merger of giants (the French Alcatal and the American Lucent Technologies), becoming the largest communication technology company in the globe. With the merger of 2 giants a new corporate identity was created: is no longer Alcatel and no longer Lucent Technologies, but Alcatel-Lucent. If it was only changing names, would be all right – but we are talking about a whole new organizational culture and the perception over it.
My job is directly linked to spreading this new identity internally (to all the employees) and externally (to media, clients, future employees, etc). I’m very satisfied because I’m assuming responsibilities and projects that I could not imagine having in my hands at this point of my career. I work closely to the Leaders of the company and I’m the only person of the Corporate Communications team in Bangalore, where is concentrated the majority of the R&D employees of India.
Well, instead of just write about what I’m doing here, I think is more interesting tell you some curiosities about the work environment:
Meetings
Just like in Brazil, there are lots of meetings: to follow-up projects, brainstorm over new ideas, proposal presentations, etc. At the meeting there are always someone chairing and someone taking notes for the meeting minute; all well organized. At the beginning my biggest problem was to understand the Indian accent – sometimes I just got lost during the meetings and I could swear they were not speaking English. Now it’s ok, I can follow the whole meeting and also give my perceptions – then is their time to struggle to understand my accent. Lol.
What I really hate are the conference calls. As we are at many different locallities in India and I’m envolved in projects across the country, I have to join conference calls frequently.
Then it’s a mess! The accent is even harder to understand over the phone, everybody speaks at the same time, the topics are not followed; I hate it!
Thanks to technology available I already joined some very cool virtual trainings through the company. The last one was about the analysis tool for company’s intranet/internet sites. There were people from all over the world, responsible for communication: Germany, Russia, Spain, France, USA, South Africa, China, Japan… and me in India. By just clicking a button we were all sharing a common screen and a lady from US was teaching us how to use the tool – almost without delay.
Because of the time-zone when is 6pm in the office the international conference calls start. Then it’s a big confusion with all the phone on loud-speaker each one with an accent from somewhere in the world, engineers getting together around a computer screen and joining the meeting.
Environment
The work environment also resembles the one we find in big companies in Brazil. People are friendly, from time to time you hear some laughs, the coffee break is routine, and everybody salutes everybody with a smile… The cubicles separate the employees physically, but the community is divided by some “tribes”. In one corner you have the junior engineer: young, always together discussing problems in their softwares, the parties of last weekend and the cricket championship. In another corner you find the ladies from HR, always together and laughing with discretion. The senior engineers always look more busy and act as mentors of their juvenile team.
Here in Bangalore, where is concentrated the company’s R&D work-force, the environment is more informal than Gurgaon and Mumbai – where is the majority of the corporate/management people. I’m always dressing formal but is quite common to see employees with jeans, flip-flops and colorful shirts (like those from the 70s).
Work Pace
One thing that I read during my preparation to come to India was that processes were slow. That’s true and sometimes can get on your nerves, but then it gives us an differentiation: people think that I deliver things very fast at work.
What gets my attention is the arrhythmic pace. Time management is not something practiced everywhere. Processes get accumulated in a bottle neck (usually someone at higher level who needs to provide “green light” so I can move on) and then, when there is no time, we have to rush with everything to be able to deliver on the deadline. I’ll give one fictitious example to clarify:
Let’s say the company wants to develop a strategy to increase its visibility over students and attract new talents – timeframe: 1 month. Then they ask me to create the communication plan. I do a brainstorm session, create a document with my suggestion and send it to be approved – I do that in 1 week. My document will be sitting in someone desk and I’ll receive feedbacks and the “go ahead” days before the deadline. Then I have week working as in hell to put up everything on the deadline. That’s why I have some boring and calm weeks and then suddenly a storm of activities comes.
Food
I eat everyday at the company’s cafeteria together with all the other employees: managers, directors, engineers, everybody. I eat the food from the buffet – it costs 35 rupees (less than 1 dollar). The food is vegetarian but I really like. Everyday there is: 1 desert, 1 or 2 kinds of Indian bread, plain rice, a rice full of spices and vegetables, 2 or 3 gravies (Indian food is full of gravies), salad, soup and a fried snack.
I eat almost everything (even not knowing what it is), but sometimes I have bad surprises… One example: I love potatoes. When there is a gravy with potatoes I fill in my dish. Some days ago I served a lot of it. It was a red gravy with cooked potatoes within. At the first bite the surprise: it was pineapple!! Hurgh!
Many people bring food from home. They come with their tapperware plastic containers and heat the food on the microwave. Someday I’ll bring food from home also – as I always cook dinner at home.
I’ve been using my time in the office as research also. For those who doesn’t know yet, I’m also writing a book about how to do business in India. I’m planning to publish it as soon as I get back to Brazil – beginning of 2009. In the book you’ll find other curiosities from the India business world.
6 comments:
Parabéns pelo seu blog!! Mto legal os comentários sobre o cotidiano na India.
uau!!! vai escrever um livro!!!! q espetáculo!!! já quero ler :D
bjo pra ti gabiru!
Legal conhecer essas diferencas. Ainda pretendo passar pela India. So de turista, mas pretendo.
Abraco!
Marcelo.
Adorei o seu blog. Vou pra índia em janeiro, a princípio a turismo, por 1 mês. Mas depois disso, quem sabe....Quais são as possíveis oportunidades para brasileiros na índia? Sou formada em Direito mas sempre trabalhei com administração.
Me escreve, ok? melissasabella@gmail.com
Abraços
Gabiru, que experiência bacana que vc tá tendo aí, hein?! Muito legal mesmo. Quando vc voltar a gente tem muito o que conversar. Cê vai ter que ficar uma semana me contando como é integrar a cultura de duas empresas diferentes. Eu tô fazendo uma pós em gestão de marcas e identidade corporativa e por isso tô muito curiosa com seu trabalho aí. Aproveita aprende muito e me conta depois! Bjos, Carol.
ah esqueci, preciso saber onde eh essa loja de roupa de banho indiana pq eu TENHO que comprar uma huhauahauahauahuahaua =D
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