Wednesday, March 19, 2008

25 Anos & Hampi


Fui até a MG Road para encontrar a gangue: Rafa, Polly e os portugas José e Jaime – nós iríamos a Hampi naquela noite. Eles estavam num restaurante no alto de um prédio, tipo o “Terraço Itália” de Bangalore.

Como de praxe, saímos atrasados do restaurante para pegar nosso trem. Fomos desesperados atrás de um riquixá. O primeiro pediu 200 rupias para nos levar – nunca! Aí um pouco a frente achei um stand de riquixá pré-pago, conseguimos o preço certo: 50 rupias.

Tínhamos apenas 30 minutos para pegar o trem, então o engarrafamento foi bem emocionante. Felizmente chegamos à estação a tempo de procurar nossa plataforma. Depois de andar um pouquinho por uma passagem subterrânea, encontramos nosso trem: Hampi Express.

Na porta de cada vagão tinha uma lista com o nome dos passageiros e seus assentos. “Pollyana: 54”. “Anandara: 56” – Anandara sou eu. Esse bateu recorde de errar meu nome.

Nossa classe era “Sleeper” – Dormitório. Eu já tinha tido a experiência com o ônibus pra Pushkar, então logo que entrei subi para meu colchão e coloquei a mochila de travesseiro. Enquanto a Polly reclamava desesperada com as condições do trem. O trem começou a viagem e pra minha surpresa era relativamente silencioso e macio – relativamente. Esse era o início da celebração dos meus 25 anos em Hampi.

De repente, acordei com 25 anos. Olhei em volta, eram 4:35 da madrugada. Eu estava com medo de perdemos a estação de Hospet, a mais próxima de Hampi e não consegui dormir mais. Por fim, descobri que estávamos a 2 estações de nosso destino. Então eu e Poly fomos encontrar o resto do pessoal no outro vagão.

O Sol estava nascendo e mostrando uma terra vermelha: lembrei na hora do caminho a Ouro Preto, Itabirito e a vermelhidão do minério de ferro. O trem chegou a Hospet e fomos com 2 riquixás para Hampi. No caminho, começamos a ver o que nos esperava: dezenas de templos e ruínas se fundindo com a paisagem.

Quando chegamos lá, parecia que tínhamos voltado no tempo: os carros, as roupas, a aparência, tudo de 40 anos atrás... O primeiro objetivo era encontrar uma pousada. Depois de muitos gritos das garotas por causa das condições precária dos banheiros de algumas pousadas, encontramos uma bem jeitosa, com vista para o rio e para o principal templo.

A cidade é dividida pelo rio Tungabhadra. De um lado é sacro: não tem bebida alcoólica, nenhum tipo de carne... Do outro, é festa! Bebida, carne, frango e tudo mais. Sai Plaza era o nome da nossa pousada. Um lugarzinho relax, perfeito para as centenas de bixo-grilo que vão pra Hampi.

O pessoal cantou parabéns pra mim, versão brasileira e portuguesa. Comemos um longo e reforçado café da manhã com ovos, batatas e pão. Depois, iniciamos nossa jornada nas dezenas de templos.

No primeiro, pegamos um guia que tentou nos explicar toda a história do templo Virupaksha. Tentou, porque tinha barulho e conseguíamos entender só 20% do inglês do cara. Mas eu gostei bastante. Eu tinha lido sobre a história da Índia antes de vir pra cá e Hampi foi antigamente a capital do grande império Indiano (Vijayanagara), até o Império Mongol tomar conta de quase tudo, destruir e saquear a Índia.

Com este guia, comecei a entender melhor a multiplicidade de deuses da religião hindu. Este templo era em homenagem à terceira “encarnação” (eles chamam avatares) de Vishnu, como um javali. Se não me engano, ele tem 10 avateres – 9 já vieram ao mundo e tem ainda uma outra por vir.

No templo tinha também uma elefanta graciosa, tratada como deusa. Todos as terças ela se banha no rio e dá benção aos hindus. Fizemos carinho nela, mas não pudemos tirar nenhuma foto deste templo.

No complexo deste templo tinham construções do século VII e algumas outras mais recentes, do século XVI. A arquitetura é muito inteligente, fazendo uso até de câmaras escuras que refletem a sombra do horizonte – o mesmo conceito das máquinas fotográficas. Achamos no meio de milhares de esculturas entalhadas nas paredes, uma orgia.

Claro que perguntamos pro guia, que nos explicou que era uma escultura Kama Sutra em sinal de afeto ao templo. Perguntamos também se aquilo era praticado ali, ele riu e disse que antigamente sim, agora não.

Passeamos um pouquinho por Hampi Bazar – tipo o centro da cidade. Aí sempre tem a galera querendo grana de turista. Inclusive um encantador de serpente que tentou nos arrancar um trocado – mas as pobre coitadas das cobras estavam tão drogadas que nem se mexiam e se não fossem as flautadas do moço de turbante, acho que dormiam.

Negociamos com um carinha e combinamos um preço para que 2 riquixás nos levassem a uma rota de templos durante todo o dia. Seguimos adiante em nossa jornada, fazia um calor escaldante. Fomos a algumas ruínas, tiramos várias fotos.

Depois seguimos para onde era o mercado da cidade. As ruínas eram muito legais e levavam a uma piscina central. Tirei várias fotos e fiquei imaginando como seria aquele lugar a mil anos atrás, cheio de gente. Depois passamos rapidinho num lugar onde duas pedras gigantes estão escoradas uma na outra.

A paisagem de Hampi é muito estranha. São milhões de pedras gigantes postas uma sobre a outra. A impressão que dá é que alguém colocou aquelas pedras ali, uma a uma. Dá pra ver que a região é antiga pra caramba e que a erosão já comeu quase tudo.

A próxima parada foi num complexo que incluía o Lótus Mahal, o estábulo dos elefantes e outras ruínas. Muito bonito e bem cuidado o lugar. Indianos pagam 5 rupias pra entrar, extrangeiros pagam 250. Discriminação a parte, entramos no templo (menos a Polly) e aproveitamos para deitar na grama e fazer estripulias.

O mesmo ingresso deste lugar, dava direito a entrar no nosso último destino do dia, o Templo Vittala e o Carro de Pedra. O engraçado é que em cada templo gigante que a gente entrava, a gente pensava como seria legal organizar uma festa ali.

Neste último era dedicado a festas mesmo, acabei descobrindo ao berosar (aproveitar) a explicação que um guia fazia a outro grupo. Inclusive, no centro do templo tem um salão com instrumentos musicais entalhados nas colunas. E se você bate na coluna, ela emite o som daquele instrumento musical.

Encerramos a jornada turística mortos de fome, de cansaço e depois de muito Sol. Fomos almoçar num restaurante chamado “Mango Tree” (Mangueira). Fica na beira do rio (lado sagrado) e as mesas ficam embaixo de uma mangueira gigante. A comida vegetariana era beem boa, eu gostei muito.

Eu e a Rafa voltamos para o Hotel e ficamos bebendo merecidas cervejinhas, enquanto o resto do pessoal quis ficar no rio pra ver o pôr-do-sol. A noite um monte de gente foi ao restaurante da pousada e ficamos lá vendo uns filmezinhos, comendo e eu tomando cerveja. Assim foi meu aniversário.

No Domingo, acordamos tarde, tomamos novamente o big café da manhã e combinamos de não fazer outra maratona de templos. Saímos andando para conhecer o resto da cidadezinha e um outro gringo nos disse de um lago, que havia ali perto e onde dava pra nadar.

Pensamos: nesse calor, achar água limpa, na Índia!? É ver pra crer! Negociamos até que um riquixá aceitou nos levar até o lago, esperar algumas horinhas e depois nos levar até o Templo dos Macacos, parada obrigatória em Hampi.

O lago era uma represa do rio Tungabhadra, no alto de uma montanha. Mas que delícia! Uma vista bem legal, e a água era mesmo limpa e muito boa de nadar. Fomos até um ponto que era melhor para nadar, estava cheio de estrangeiros.

Eu não poderia nadar, porque tinha machucado o joelho e não podia molhar. Não resisti, pulei de ponta, fiz cambalhota, pirueta, foi bom demais. A ferida no joelho abriu toda, mas valeu à pena.

Depois seguimos ao templo dos macacos. Ao chegar, avistamos o templo lááá no alto e uma escadaria gigante a nos convidar. Começamos a subida, desde o princípio acompanhados de vários macaquinhos e macacões. Além de termos que parar por causa do cansaço, a vista era maravilhosa e valia a pena ficar observando. Lembrei até da Lapinha da Serra, um dos meus locais favoritos no Brasil.

Numa dessas paradas, um macaco começou a seguir a Rafa querendo a garrafa d’agua. Isso se transformou numa briga. Imagina a cena: um macaquinho em pé, na beira de um precipício, a uns 600 metros de altura, no templo dos macacos, enquanto nossa amiga tentava dar uma garrafada nele. Gritamos desesperados: “Não Rafa, não mata o Macaco!”

Imagina o Karma dessa menina se ela mata um ser sagrado em seu templo! Depois que o macaquinho fugiu, rimos até da cena. Mas na hora deu medo!

Finalmente chegamos no topo. Que lindo! Uma vista de 360 graus de toda a região de Hampi. Os templos que vimos no dia anterior, pequenininhos lá embaixo. Eu aproveitei pra me afastar do pessoal, me sentei na beira da montanha e comecei a refletir nos meus 25 anos, na loucura que era estar ali, e agradeci.

Descemos o morro, dessa vez em paz com os macacos. Pegamos o riquixá de volta a pousada. Pegamos nossas coisas e fomos tentar almoçar numa outra pousada ao lado. Tentar, porque o almoço demorou tanto que não agüentamos esperar; iríamos perder o ultimo barquinho para atravessar o rio e o nosso trem. Pagamos as bebidas que tínhamos consumido e saímos correndo.

Comemos qualquer coisa do outro lado do rio e de novo saímos apressados para não perder o trem de volta. Chegamos com tempo, pegamos o trem, dormimos a viagem toda e voltamos à vidinha cotidiana em Bangalore.

Desculpa pelo post gigante, mas foi uma viagem especial.



O Trem
Companheiros de viagem

Acordar com 25

Primeira vista do Rio

Cafe da manha

Entrada do Virupaksha

Virupaksha

Hampi - Coleção Primavera-Verão

"Encantador" de serpentes

Monolito

Estátua Ganesh

Obelix

Dia quente

Hampi

Antigo mercado

Gangue

O pessoal tá lá no meio.

Garotada

Yoga ou capoeira?

Carruagem de Pedra

Eu nunca... trepei numa árvore sagrada de mil anos!

Mango Tree

Na pousada

Meus fãs

Na represa (o chapeu é a Rafa).

Até parece...

Novo amigo

Paisagem

Companheiro de subida

Macaquinho e a garrafa

Vista: verde de um lado, seco do outro.

...

Vista do templo

Nunca viu não?

4 comments:

Ricardo said...

hahahaha

O macaco da última foto está sensacional!!

Show de bola o relato, agora quero ir ainda mais lá...

Abraços,
Ricardo

Daniel Ottoni said...

bacana demais gabiru!

mais um posto q nao me cansei de ler, nem um pouco...rs...

muito bacana ler suas histórias, ver as fotos de vc num lugar completamente diferente, passando por uma situação q nunca pensaria!

loucura mesmo ! e tem mesmo q agradecer, experiencia como essa eh para poucos

abraços, keep writing...

chocolato said...

Dear Andre, I am so sad you couldn't join us for Holi! It was amazing celebration in a farmhouse near delhi with a pool and everything. I hope to see you very soon (I have some indications that you might come in two weeks time). And pls, give me the English version of the last post :)

said...

Querido,
És um menino inspirador que eu tive muita "sorte" em conhecer.
Já adorava ouvir-te, rir contigo, passear contigo, sentir-me protegida na tua amizade genuína... agora adoro ler-te também.
Parto hoje para Hampi com vontade de viver... e reviver um pouco também porque levo as tuas palavras.
A ti levo-te na sacola da saudade: viagem sem você na Índia foi só quando ia a caminho de te conhecer! :)
Um abraço,