Friday, March 28, 2008

Não estou no paraíso

1) Estou gostando muito da minha experiência aqui.
2) É impossível generalizar um país tão grande como a Índia.

Dito isso, posso continuar com o post...

Quem me conhece bem sabe que eu tenho uma visão muito positiva das coisas. Aqui na Índia tenho percebido muito isso: tenho a tendência a ver perceber as coisas sempre pelo seu melhor aspecto. Isso tem me ajudado bastante a me adaptar e a aceitar algumas diferenças culturais grotescas.

Depois de alguns posts, recebi vários emails e comentários de pessoas dizendo que adoram minhas histórias (brigado gente) e que estão passando a gostar muito da Índia. Este post não tem a intenção, de maneira alguma, de jogar um banho de água fria nos mais empolgados com a Índia, mas preciso dizer que “o buraco é mais embaixo”.

Então aí vão algumas dificuldades que, grandes ou pequenas, acabam mexendo com a gente no cotidiano:

Sujeira

A impressão que tenho é que o padrão de sujeira deles é bem diferente. Terra, poeira não é sujeira da mesma forma que é pra gente. Como a infra-estrutura das cidades é bem ruim, poeira é constante. Manter a casa limpinha, sem um grão de poeira, com as janelas abertas, é quase impossível. É engraçado que a gente leva um choque primeiro, com a sujeira, manchas de cuspes e lixo em todo canto. Agora quando vou num hotel 5 estrelas, estranho o quão limpos eles são.

Falando de lixo e poluição, é difícil achar alguém com consciência ambiental. Assim como a China, a Índia cresce rápido e sem pensar no impacto que está causando. Além disso, não há um sistema de tratamento de esgoto, coleta de lixo ou mesmo lixeiras suficientes nas ruas. Então é lixo pra todo lado, os canais e rios urbanos (e até o mar, no caso de Mumbai) são fétidos. Os poucos caminhões que colhem o lixo, estão caindo aos pedaços e vão espalhando lixo e aquele “suco” por onde passam. Fede muuito.

Serviço

A qualidade dos serviços em restaurantes, bares e lojas é de deixar qualquer um irritado. Em alguns lugares, você tem que implorar para ser atendido e rezar para seu pedido chegar certo. Ontem fui restaurante cubano com a Polly, lugar até chique. Ela queria comer arroz e escolheu um prato que acompanhava arroz. Veio purê de batata. Ela chamou o garçom e ele disse que não tinha mais arroz e ELES decidiram substituir pelo pure. Claro que ele só disse isso depois, por que falaria antes?

Além disso, a apresentação dos pratos, não é algo que parece importar muito. Ás vezes você vê a comida sendo servida de um balde e a aparência não é nada convidativa.

O pior é a flexibilidade. Se você quer mudar ou algo diferente, tem que negociar bastante. Hoje mesmo queria costurar uma mochila de algodão que estou usando sempre pra viajar. Fui em 3 lojas de costura diferentes. Os caras consertam calças, camisas, blazers, mas a mochila eles não quiseram nem olhar (era só dar alguns pontinhos na máquina).

Riquixas

Uma dificuldade tremenda é lidar com os Riquixás todos os dias. Às vezes eles simplesmente se negam a te levar em um determinado lugar. Outras, cobram um preço absurdo (O DOBRO, TRIPLO). Ou então decidem fazer um tour pela cidade, pegando caminhos desnecessários para que paguemos a mais. Ah, claro que eles só vão abastecer quando tem um cliente, seria desperdício ir até um posto de gasolina por conta própria, tem que ter alguém pagando por isso.

Agora imagina: você acorda as 7 da manha, toma um café, banho rápidos e sai ainda sonolento prum dia de trabalho. Aí você aborda o primeiro riquixá e diz aonde quer ir: ele fecha a cara, diz não e vai embora (ou te manda embora). Você continua andando, acha outro e ele te pede o dobro do preço. Você se irrita, diz q não e continua andando, até achar um que te leve e ligue o taxímetro. Você está com pressa (afinal perdeu tempo andando e negociando com os outros), mas ele pára pra abastecer e sempre tem uma fila gigante no posto de gasolina, lá se vão mais 10 minutos do seu dia. Eu já andei mais de 5km, puto porque não consegui um riquixa.

Alvo de exploração

Ser estrangeiro aqui é complicado algumas vezes. Você acaba com um constante receio de que será enganado, trapaceado, explorado. Esse sentimento constante pode estressar muito e minar o bem-estar.

Os preços para estrangeiros são sempre abusivos, é consenso geral: se você é estrangeiro, o preço é maior. Tudo bem que se você pensar, a rupia é super desvalorizada e as coisas são (às vezes) ridiculamente baratas. Mas é questão de princípio e eu não suporto ser passado pra trás, enganado. Isso me tira do sério. Sou capaz de brigar com um riquixá por causa de 5 rúpias que ele me deve de troco. NÃO PAGO EXTRA!

Outra coisa que irrita: ser abordado na rua o tempo todo! É ambulante, mendigo, falso “benzedor”, tudo! “Com licença senhor!” – “Por favor senhor!” – “Aqui senhor!” e te pegam, seguram pelo braço, ficam cutucando. Cansa, viu!?

Festas

Até uns 2 meses atrás, havia uma lei proibindo dançar em Bangalore. Claro que ninguém respeitava, mas tem cabimento??? UMA LEI!!! A lei que todos respeitam é um “toque de recolher” (igualmente ridículo) às 23:00. As festas acabam às 23:00 em ponto. A música para, as luzes se acendem e você é mandado embora, logo quando a festa começa a ficar “no ponto”.

Pra um Belo Horizontino, acostumado a sair de casa às 23:30, ficar na festa até umas 4 e ainda tomar uma saidera no Bolão ou no Chopp da Fábrica, é um choque incrível.

O pior é que as boates são todas iguais: 30 homens pra cada mulher (olha que nem to considerando a aparência da mulher como variável), dançando feito loucos, todos aglomerados. As músicas de sempre: R&B e Bollywood.

Transito

Não faz sentido. O trânsito é louco, alguns fatos:
- Transporte público quase não tem
- Não se usa retrovisor – mão na buzina o tempo todo
- As ruas não têm faixas definidas
- Regras só no papel (se é que têm)
- Alguns semáforos ficam fechados por 5 ou 10 MINUTOS!
- Motos são baratíssimas (a Índia é a maior produtora de motos do mundo)
- Os riquixás e ônibus soltam uma fumaceira inacreditável
- Motos sobem no passeio pra desviar do transito (sempre)
- Choveu vira lama
Pra ajudar a mão é inglesa (sentido contrário) e a Tata Motors acaba de lançar o carro mais barato do mundo aqui na Índia, vai ficar beleza!

Respeito à mulher

As mulheres sofrem bastante com os assédios (principalmente as estrangeiras). As meninas me dizem que não saem de casa sem um MP3 Player no ouvido, porque não querem escutar o que eles dizem ou os sons que fazem quando elas passam.

Eu fico irritado, pois quando ando com minhas amigas, estão sempre comendo elas com os olhos. Faço questão de mostrar pro cara que eu to vendo, olho no fundo dos olhos dele – de uma maneira não amigável.

Soube de algo que me abalou e me deixou profundamente revoltado, vou contar a história: um casal de amigos meus aqui (brasileiros) estão tendo um filho. Com muito custo, conseguiram descobrir o sexo da criança (é menino!!). Custo, porque é proibido saber o sexo. É proibido porque quando os pais descobrem que é menina, abortam. Além disso, quando a menina nasce, não é tão bem cuidada (pra ser ameno) quanto os meninos.

Disseram a este casal que se fosse menina, não precisavam cuidar. “Meninas não precisam de cuidados, se criam sozinhas. São capazes de gerar outra vida, então conseguem se virar sozinhas. Os meninos é que tem que ser bem tratados.” PQP, né?

Bom, este post já está ficando grandinho (pra variar), então vou ficando por aqui. Mas não posso terminar antes de escrever que estar na Índia e viver este país é uma montanha-russa de emoções e sentimentos. É aprender a respeitar. É ver o mundo de outra forma – de verdade. É se conhecer melhor. É valorizar muito mais o que você deixou pra trás.

É um país incrível – seja o qual for sentido que queira dar a esta frase. E pra viver aqui, é preciso estar aberto a aceitar coisas que não fazem sentido pra você, rir das desgraças, relevar. Continuo agradecendo por estar aqui.





Cena comum - ponto de lixo

Falso mago querendo dinheiro


Boate





Trânsito

Assédio na rua

(English Version)

I’m not in a paradise

1) I’m enjoying my experience here.
2) It’s impossible to generalize a country as big as India.

Having that said I can continue with this post…

Who knows me well is aware that I have a very positive approach over things. Here in India I can perceive that: I tend to perceive things always by its best aspect. This has been quite helpful for my adaptation and to accept some bizarre cultural differences.

After some posts written I received many emails and comments of people saying that they love my stories (thanks guys) and that they are becoming to really like India. This post doesn’t have the objective – not at all – to extinguish the mood of those most excited about India; but I have to say that the rabbit hole is deeper.

So, here it goes some difficulties that – big or small – somehow get in our nerves on daily basis:

Waste

The impression I have is that their neatness standard is different. Dust is not dirt as it is for the Western world. As the cities infrastructure is very bad; dust is constant. To keep the house completely clean, without a grain of dust and with the windows opened is barely impossible. It’s funny that at first sight we experience a shock because of the dirty, spiting spots and garbage everywhere. Now is when I go to a 5 star Hotel that I get surprised about how clean the environment is.

Talking about garbage and pollution; it’s quite hard to find someone environmentally conscious. Similar to China, India is also growing very fast and without giving enough thoughts (and/or action) on the impact they’re causing. Besides, there is no sewage system or treatment, garbage collection system or even trash cans enough on the streets. Then we have garbage everywhere; the canals and urban rivers (and even the see, in Mumbai) are stinky. The few trucks that collect the garbage on the streets are falling apart and spread the garbage and that “juice” wherever they go. Stinks so badly!

Services

The quality of services at restaurants, pubs and stores is able to get anyone pissed off. In some places you have to almost beg to be served and pray to have what you really ordered. Yesterday I went to a Cuban restaurant with Polly – fancy place. She wanted to eat something with rice and ordered a dish that accompanied rice; but she got mashed potatoes. She called the waiter and he said that they didn’t had rice and THEY decided to change for mashed potatoes. Of course that he said that only after she received the dish – why to ask her opinion before?

Besides that, the way the dishes are presented is not important here. Sometimes you see the food being served from a bucket and the appearance is not invocative at all.

The worse is the lack of flexibility. If you want to change something or something different you have to struggle and negotiate to get it. Today itself, I wanted to fix a cotton backpack that I’m using often to travel – it just needs some stitches. I went to 3 different places. They fix pants, coats, shirts, blazers, but my backpack they can’t.

Rikishaws

One big challenge is to deal with auto-rikishaws everydays. Sometimes they just say deny to take you somewhere. Other times the charge absurd prices (twice or three times the right price). They usually also give you a city-tour; taking unnecessary ways to make we pay more. Oh, and of course they just go to the gas station if they have a passenger – it would be a waste to go to the gas station by their own, they need someone paying for that de-tour.

Now picture this: you wake up at 7 AM, take a quick breakfast and a shower and go to the street still sleepy. Then you approach the first rikishaw and says where you want to go: he gives you an angry face, says NO and goes away (or send you away). You keep walking and find another one: the guy asks you the double of the price. You get angry, says NO and keep walking until a good soul takes you where you want and uses the meter. At this time you are already late (you lost time negotiating with rikishaws along the way) but the guy stop in a gas station to get fuel and there’s always a big cue. One time I walked for 5 km, pissed off because I didn’t got a rikishaw.

Exploration target

To be a foreigner here is complicated sometimes. You get a constant concern of being cheated or explored. This constant feeling can stress a lot and drain the well being.

The prices to foreigners are always abusive. It’s common sense: if you are a foreigner the price is higher. You can think that the rupee is a weak currency and thing are (sometimes) incredibly cheap. For me is not the price but the principle: I don’t like to be cheated; this makes me lose my mind. I’m able to fight with a rikishaw because of 5 rupees that he is supposed to give me as change. I DON’T PAY EXTRA!

Another annoying thing is to be approached all the time. Is the street salesman, the fake guru, begging people, etc. “Excuse me sir!” – “Please sir” – “Here sir” – and they hold you on the arm, keep poking… I get tired, you know?

Parties

A couple of months back there was a law prohibiting people to dance in Bangalore. Of course no one obey this law; but can you imagine?? A LAW!!! One law that everyone obey is a “curfew” at 23:00. The parties are over at 23:00 sharp. The music stops, the lights are turned on and you are asked to leave – right when the party is starting to get hot.

For a guy from Belo Horizonte, used to go to parties at 23:30, stay at the party until 4am and drink the last beer at Bolao or Chopp da Fabrica – it’s quite a shock.

The worse thing is that all the clubs are the same: 30 man for each woman (I’m not even considering the women looks as variable in this equation), dancing like crazy, all trying to fit in a small dance floor. The music is always the same also: R&B, Electronic and Bollywood.

Traffic

It makes no sense. The traffic is crazy; some facts:
Public transportation almost doesn’t exist
Mirrors are not used – they prefer to “sound horn” all the time
The roads tracks are not defined
Rules, only in the book – if there’s any rule
Some traffic lights stay closed for 5 or 10 MINUTES!!!
Bikes are extremely cheap – India is the biggest bike producer of the world
The rikishaws and buses blow an unbelievable smoke of pollution
Bikes are often on the sidewalk to avoid traffic
If it rains the roads are turn into mud
To support the mess: they follow British direction

Respect to Women

Women suffer to much if harassments – even worse for the foreigners. They girls told me that they don’t take a walk without an MP3 Player to avoid listening to the phrases and/or noises mans direct to them when they pass by.

I get irritated because when I’m walking with friends (girls) the Indian guys are always undressing them with the eyes. I make sure to show to them that I’m seeing it – I keep looking at their eyes with an angry face.

I heard something that got into my nerves; I’ll tell you the story. A Brazilian couple friends of mine are having a baby. After a lot of efforts they managed to find out the gender of the baby (it’s a boy!!). Lots of efforts because it is forbidden to know the gender before the baby is born. It is forbidden because if the parents find out that is a girl; they force abortion. Besides, when the girl is borne she doesn’t receive the same care (to be easy with the words) that the boys.

This couple was told that if it is a girl they don’t need to take care of the baby. “Girls don’t need caring, they can raise themselves. They are able to generate another life, so they manage to survive. Boys are the ones who deserve well care.” What a F.!!!

Well, the post is getting too big (again), so I’ll stop here. But I can’t finish it before writing that being in India and living in this country is an emotion roller-coaster. It is learning to respect. It is seeing the world in a different way – really. It is getting to know yourself better. It is to value much more whatever you left behind.

It is an incredible country – whatever is the meaning of this statement. And to live here is needed to be open to accept things that make no sense to you; laugh of the disasters, let it be. I’m still giving thanks to be here.

Wednesday, March 19, 2008

25 Anos & Hampi


Fui até a MG Road para encontrar a gangue: Rafa, Polly e os portugas José e Jaime – nós iríamos a Hampi naquela noite. Eles estavam num restaurante no alto de um prédio, tipo o “Terraço Itália” de Bangalore.

Como de praxe, saímos atrasados do restaurante para pegar nosso trem. Fomos desesperados atrás de um riquixá. O primeiro pediu 200 rupias para nos levar – nunca! Aí um pouco a frente achei um stand de riquixá pré-pago, conseguimos o preço certo: 50 rupias.

Tínhamos apenas 30 minutos para pegar o trem, então o engarrafamento foi bem emocionante. Felizmente chegamos à estação a tempo de procurar nossa plataforma. Depois de andar um pouquinho por uma passagem subterrânea, encontramos nosso trem: Hampi Express.

Na porta de cada vagão tinha uma lista com o nome dos passageiros e seus assentos. “Pollyana: 54”. “Anandara: 56” – Anandara sou eu. Esse bateu recorde de errar meu nome.

Nossa classe era “Sleeper” – Dormitório. Eu já tinha tido a experiência com o ônibus pra Pushkar, então logo que entrei subi para meu colchão e coloquei a mochila de travesseiro. Enquanto a Polly reclamava desesperada com as condições do trem. O trem começou a viagem e pra minha surpresa era relativamente silencioso e macio – relativamente. Esse era o início da celebração dos meus 25 anos em Hampi.

De repente, acordei com 25 anos. Olhei em volta, eram 4:35 da madrugada. Eu estava com medo de perdemos a estação de Hospet, a mais próxima de Hampi e não consegui dormir mais. Por fim, descobri que estávamos a 2 estações de nosso destino. Então eu e Poly fomos encontrar o resto do pessoal no outro vagão.

O Sol estava nascendo e mostrando uma terra vermelha: lembrei na hora do caminho a Ouro Preto, Itabirito e a vermelhidão do minério de ferro. O trem chegou a Hospet e fomos com 2 riquixás para Hampi. No caminho, começamos a ver o que nos esperava: dezenas de templos e ruínas se fundindo com a paisagem.

Quando chegamos lá, parecia que tínhamos voltado no tempo: os carros, as roupas, a aparência, tudo de 40 anos atrás... O primeiro objetivo era encontrar uma pousada. Depois de muitos gritos das garotas por causa das condições precária dos banheiros de algumas pousadas, encontramos uma bem jeitosa, com vista para o rio e para o principal templo.

A cidade é dividida pelo rio Tungabhadra. De um lado é sacro: não tem bebida alcoólica, nenhum tipo de carne... Do outro, é festa! Bebida, carne, frango e tudo mais. Sai Plaza era o nome da nossa pousada. Um lugarzinho relax, perfeito para as centenas de bixo-grilo que vão pra Hampi.

O pessoal cantou parabéns pra mim, versão brasileira e portuguesa. Comemos um longo e reforçado café da manhã com ovos, batatas e pão. Depois, iniciamos nossa jornada nas dezenas de templos.

No primeiro, pegamos um guia que tentou nos explicar toda a história do templo Virupaksha. Tentou, porque tinha barulho e conseguíamos entender só 20% do inglês do cara. Mas eu gostei bastante. Eu tinha lido sobre a história da Índia antes de vir pra cá e Hampi foi antigamente a capital do grande império Indiano (Vijayanagara), até o Império Mongol tomar conta de quase tudo, destruir e saquear a Índia.

Com este guia, comecei a entender melhor a multiplicidade de deuses da religião hindu. Este templo era em homenagem à terceira “encarnação” (eles chamam avatares) de Vishnu, como um javali. Se não me engano, ele tem 10 avateres – 9 já vieram ao mundo e tem ainda uma outra por vir.

No templo tinha também uma elefanta graciosa, tratada como deusa. Todos as terças ela se banha no rio e dá benção aos hindus. Fizemos carinho nela, mas não pudemos tirar nenhuma foto deste templo.

No complexo deste templo tinham construções do século VII e algumas outras mais recentes, do século XVI. A arquitetura é muito inteligente, fazendo uso até de câmaras escuras que refletem a sombra do horizonte – o mesmo conceito das máquinas fotográficas. Achamos no meio de milhares de esculturas entalhadas nas paredes, uma orgia.

Claro que perguntamos pro guia, que nos explicou que era uma escultura Kama Sutra em sinal de afeto ao templo. Perguntamos também se aquilo era praticado ali, ele riu e disse que antigamente sim, agora não.

Passeamos um pouquinho por Hampi Bazar – tipo o centro da cidade. Aí sempre tem a galera querendo grana de turista. Inclusive um encantador de serpente que tentou nos arrancar um trocado – mas as pobre coitadas das cobras estavam tão drogadas que nem se mexiam e se não fossem as flautadas do moço de turbante, acho que dormiam.

Negociamos com um carinha e combinamos um preço para que 2 riquixás nos levassem a uma rota de templos durante todo o dia. Seguimos adiante em nossa jornada, fazia um calor escaldante. Fomos a algumas ruínas, tiramos várias fotos.

Depois seguimos para onde era o mercado da cidade. As ruínas eram muito legais e levavam a uma piscina central. Tirei várias fotos e fiquei imaginando como seria aquele lugar a mil anos atrás, cheio de gente. Depois passamos rapidinho num lugar onde duas pedras gigantes estão escoradas uma na outra.

A paisagem de Hampi é muito estranha. São milhões de pedras gigantes postas uma sobre a outra. A impressão que dá é que alguém colocou aquelas pedras ali, uma a uma. Dá pra ver que a região é antiga pra caramba e que a erosão já comeu quase tudo.

A próxima parada foi num complexo que incluía o Lótus Mahal, o estábulo dos elefantes e outras ruínas. Muito bonito e bem cuidado o lugar. Indianos pagam 5 rupias pra entrar, extrangeiros pagam 250. Discriminação a parte, entramos no templo (menos a Polly) e aproveitamos para deitar na grama e fazer estripulias.

O mesmo ingresso deste lugar, dava direito a entrar no nosso último destino do dia, o Templo Vittala e o Carro de Pedra. O engraçado é que em cada templo gigante que a gente entrava, a gente pensava como seria legal organizar uma festa ali.

Neste último era dedicado a festas mesmo, acabei descobrindo ao berosar (aproveitar) a explicação que um guia fazia a outro grupo. Inclusive, no centro do templo tem um salão com instrumentos musicais entalhados nas colunas. E se você bate na coluna, ela emite o som daquele instrumento musical.

Encerramos a jornada turística mortos de fome, de cansaço e depois de muito Sol. Fomos almoçar num restaurante chamado “Mango Tree” (Mangueira). Fica na beira do rio (lado sagrado) e as mesas ficam embaixo de uma mangueira gigante. A comida vegetariana era beem boa, eu gostei muito.

Eu e a Rafa voltamos para o Hotel e ficamos bebendo merecidas cervejinhas, enquanto o resto do pessoal quis ficar no rio pra ver o pôr-do-sol. A noite um monte de gente foi ao restaurante da pousada e ficamos lá vendo uns filmezinhos, comendo e eu tomando cerveja. Assim foi meu aniversário.

No Domingo, acordamos tarde, tomamos novamente o big café da manhã e combinamos de não fazer outra maratona de templos. Saímos andando para conhecer o resto da cidadezinha e um outro gringo nos disse de um lago, que havia ali perto e onde dava pra nadar.

Pensamos: nesse calor, achar água limpa, na Índia!? É ver pra crer! Negociamos até que um riquixá aceitou nos levar até o lago, esperar algumas horinhas e depois nos levar até o Templo dos Macacos, parada obrigatória em Hampi.

O lago era uma represa do rio Tungabhadra, no alto de uma montanha. Mas que delícia! Uma vista bem legal, e a água era mesmo limpa e muito boa de nadar. Fomos até um ponto que era melhor para nadar, estava cheio de estrangeiros.

Eu não poderia nadar, porque tinha machucado o joelho e não podia molhar. Não resisti, pulei de ponta, fiz cambalhota, pirueta, foi bom demais. A ferida no joelho abriu toda, mas valeu à pena.

Depois seguimos ao templo dos macacos. Ao chegar, avistamos o templo lááá no alto e uma escadaria gigante a nos convidar. Começamos a subida, desde o princípio acompanhados de vários macaquinhos e macacões. Além de termos que parar por causa do cansaço, a vista era maravilhosa e valia a pena ficar observando. Lembrei até da Lapinha da Serra, um dos meus locais favoritos no Brasil.

Numa dessas paradas, um macaco começou a seguir a Rafa querendo a garrafa d’agua. Isso se transformou numa briga. Imagina a cena: um macaquinho em pé, na beira de um precipício, a uns 600 metros de altura, no templo dos macacos, enquanto nossa amiga tentava dar uma garrafada nele. Gritamos desesperados: “Não Rafa, não mata o Macaco!”

Imagina o Karma dessa menina se ela mata um ser sagrado em seu templo! Depois que o macaquinho fugiu, rimos até da cena. Mas na hora deu medo!

Finalmente chegamos no topo. Que lindo! Uma vista de 360 graus de toda a região de Hampi. Os templos que vimos no dia anterior, pequenininhos lá embaixo. Eu aproveitei pra me afastar do pessoal, me sentei na beira da montanha e comecei a refletir nos meus 25 anos, na loucura que era estar ali, e agradeci.

Descemos o morro, dessa vez em paz com os macacos. Pegamos o riquixá de volta a pousada. Pegamos nossas coisas e fomos tentar almoçar numa outra pousada ao lado. Tentar, porque o almoço demorou tanto que não agüentamos esperar; iríamos perder o ultimo barquinho para atravessar o rio e o nosso trem. Pagamos as bebidas que tínhamos consumido e saímos correndo.

Comemos qualquer coisa do outro lado do rio e de novo saímos apressados para não perder o trem de volta. Chegamos com tempo, pegamos o trem, dormimos a viagem toda e voltamos à vidinha cotidiana em Bangalore.

Desculpa pelo post gigante, mas foi uma viagem especial.



O Trem
Companheiros de viagem

Acordar com 25

Primeira vista do Rio

Cafe da manha

Entrada do Virupaksha

Virupaksha

Hampi - Coleção Primavera-Verão

"Encantador" de serpentes

Monolito

Estátua Ganesh

Obelix

Dia quente

Hampi

Antigo mercado

Gangue

O pessoal tá lá no meio.

Garotada

Yoga ou capoeira?

Carruagem de Pedra

Eu nunca... trepei numa árvore sagrada de mil anos!

Mango Tree

Na pousada

Meus fãs

Na represa (o chapeu é a Rafa).

Até parece...

Novo amigo

Paisagem

Companheiro de subida

Macaquinho e a garrafa

Vista: verde de um lado, seco do outro.

...

Vista do templo

Nunca viu não?